domingo, 15 de maio de 2016

METAS, DEVERES E OBRIGAÇÕES


Em Atos 20:18-36 encontramos as palavras com que o apóstolo Paulo se despede dos supervisores da igreja de Éfeso. Ele estava de passagem para Jerusalém, e não esperava ter a oportunidade de vê-los outra vez. Paulo tinha sido o seu professor e mestre por três anos, e havia uma profunda afeição entre eles e Paulo. Em poucas palavras, Paulo descreve a sua missão, que cumpriu por completo entre eles, e define em linhas gerais o trabalho que os supervisores devem desenvolver.
O obreiro cristão, particularmente aquele que se dedica inteiramente à obra missionária, encontrará aqui princípios importantes para orientá-lo em sua conduta e em seu trabalho.
O apóstolo Paulo começa definindo sua própria meta: "Testificar a todos o arrependimento do pecado para com Deus e a fé em nosso Senhor Jesus Cristo."
Os onze apóstolos eram testemunhas do que haviam visto e ouvido enquanto o Senhor Jesus estava na terra, e foram escolhidos e enviados por Ele com o comando: "Ide ... fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo; ensinando-os a guardar todas as cousas que vos tenho ordenado" (Mateus 28:19-20).

Paulo não estava entre eles; ao contrário, foi perseguidor da igreja primitiva em seu início, mas arrependeu-se e submeteu-se a Cristo imediatamente quando O viu no caminho de Damasco. Ele também foi escolhido pelo Senhor Jesus para levar o Seu nome aos gentíos e reis bem como os filhos de Israel, e o Senhor iria lhe mostrar quanto lhe importava sofrer pelo Seu nome (Atos 9:15,16). Paulo se colocou entre os apóstolos, por isto e porque recebeu o Evangelho diretamente mediante revelação de Jesus Cristo, e não de homens (Gálatas 1:1, 11,12).
O apóstolo Paulo era, em primeiro lugar um evangelista (um mensageiro de bem). Semelhantemente são evangelistas todos aqueles cuja missão é levar o evangelho da Salvação para o mundo que não conhece Cristo: são os missionários ou obreiros, que se dedicam a este trabalho.
Para alcançar sua meta, foi preciso usar de toda a humildade e perseverança, mesmo com lágrimas, vencendo provações vindas do inimigo. Não foi fácil. O caminho do crente em Cristo, testemunhando do seu Salvador, também não é fácil. Exige:
  • humildade: encontrei recentemente uma definição muito boa de humildade: humildade não consiste em pensar pouco a respeito de nós próprios, mas sim em não pensar em nós. Por outro lado, foi João Calvino que disse "Todos os que exaltam a si próprios lutam contra Deus".
  • perseverança: sobre perseverança disse o grande evangelista Spurgeon: com perseverança a lesma chegou até a arca de Noé.
  • coragem para enfrentar o inimigo que nos ataca onde julga que somos mais vulneráveis. Corrie ten Boom, uma crente que teve que suportar horrores dos nazistas durante a última grande guerra na Holanda disse o seguinte: "quando o trem entra num túnel e fica escuro, não desistimos da viagem e pulamos do trem. Ficamos quietos e confiamos no maquinista!"
O evangelista de hoje, penetra dentro de um mundo hostil, cheio de preconceitos contra os crentes, de orgulho e desprezo por imaginar que tem um conhecimento superior. Como Paulo, ele precisa de uma grande dose de humildade, perseverança e coragem, lembrando-se que o grande apóstolo Paulo, com a vantagem de ter recebido o evangelho diretamente da boca de Cristo ressuscitado, às vezes chegava a chorar diante da incredulidade e dureza de coração do mundo que enfrentava.
O apóstolo Paulo era, em segundo lugar, um mestre: ele ensinava os novos-convertidos, muitos dos quais eram gentios e portanto desconheciam não só os ensinos de Cristo que todos agora precisavam aprender dos apóstolos, mas também o Velho Testamento, do qual Paulo era profundo conhecedor. Ele ensinou tudo o que sabia, que fosse proveitoso para os que se convertiam a Cristo. No desempenho da sua tarefa, Paulo foi uma testemunha fiel de Jesus Cristo e da Palavra de Deus, nada retendo para si. Foi fiel mesmo ao enfrentar a oposição dos religiosos judeus. Paulo mandou a Timóteo, um dos primeiros "obreiros" das igrejas em seu tempo "prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina" pois "haverá tempo em que não suportarão a sã doutrina ..." (2 Timóteo 4:2,3).
Os novos convertidos precisam de mestres pois, como os gentíos do tempo de Paulo, nada conhecem das Escrituras. Hoje temos a Bíblia impressa e relativamente barata, que é uma grande vantagem, mas o mestre ainda é de grande valor para esclarecer e orientar, bem como para corrigir, repreender e exortar como Paulo mandou que Timóteo fizesse. O missionário e obreiro tem que estar bem preparado para essa finalidade, conhecendo bem a Palavra de Deus.
Ao ensinar, o mestre nada deve reter para si daquilo que é útil para os seus discípulos: no discipulado cristão estamos trabalhando para preparar outros para continuarem a nossa tarefa, e nos compete assegurar que estarão tão bem equipados quanto nós próprios.
Na Bíblia não encontramos qualquer justificativa para o clericalismo na igreja. Ao contrário o domínio de um ou mais irmãos sobre a igreja é condenado: vemos isto, por exemplo, na terceira epístola de João, onde um certo Diótrefes queria dominar a igreja ao ponto de isolá-la das outras chegando a difamar o apóstolo João. Também em duas das cartas às igrejas no Apocalipse há referências à doutrina dos nicolaítas, que significa dominadores do povo: era o início do clero, que tanto mal fez ao povo de Deus.
O trabalho do ministério cristão pertence a cada um dos membros da igreja e para isso devem ser equipados pelos seus mestres. Barnhouse, obreiro e escritor, escreveu: "Se eu só tivesse três anos para servir ao Senhor, eu reservaria os primeiros dois para estudo e preparação."
Paulo teve que dar seu testemunho, tanto em público, como de casa em casa. Ao pregar o Evangelho, Paulo adaptava suas mensagens à sua audiência, mas o teor era sempre o mesmo: o arrependimento do pecado seguido pela fé em Jesus Cristo.
Como Paulo, devemos estar sempre prontos a testemunhar aos outros a fé que recebemos de Deus e instá-los a deixar o seu pecado e receber a Cristo como o Redentor e o Senhor de suas vidas. A respeito do testemunho cristão, um comentarista, chamado Vance Havner disse: "Somos o sal da terra, não o açúcar, e nosso ministério é para purificar, não somente mudar o sabor." Estamos no mundo para ser testemunhas, e devemos nos dedicar a essa vocação. Segundo Spurgeon, todo o crente é um missionário ou um impostor!
A missão de Paulo entre os efésios só se completou depois de ter anunciado todo o desígnio de Deus a todo aquele que estava pronto a ouvir sua mensagem: a responsabilidade de Paulo terminava ali. Ao ouvinte cabe aceitar ou rejeitar o Evangelho, e é a obra do Espírito Santo convencer o pecador do pecado, da justiça e do juízo (João 16:8).
Não existe lugar para o orgulho do pregador, ou de qualquer um em ter ele próprio obtido a conversão de almas: o máximo que ele pode fazer é testemunhar de Cristo, apresentando o Evangelho de maneira clara e compreensível: com isto ele está anunciando todo o desígnio de Deus de que Paulo está falando. É Deus, o Espírito Santo, que faz o resto, e a conversão é o resultado de uma decisão expontânea e sincera daquele que ouve.
Esquecendo-se disso, muitos procuram forçar decisões com longos apelos, música e linguagem comovente. Por causa deste tipo de pressão, alguns se declaram convertidos, e atendem ao chamado do pregador; não sendo por obra do Espírito, a conversão não é genuina: é como o solo rochoso, ou espinheiro da parábola do semeador. O diabo sempre esteve empenhado em fazer com que os não-convertidos sejam admitidos nas igrejas. Tomemos cuidado para não o ajudarmos no seu trabalho.

O Espírito Santo dirigia os movimentos de Paulo, impedindo-o de ir para um lado e impelindo-o para outro. O Espírito Santo impediu Paulo de pregar a palavra na Ásia, e de ir para Bitínia (Atos 16:6,7). No entanto as palavras traduzidas "Constrangido em meu espírito" (Atos 19:21) nos dizem que Paulo estava resolvido a ir para Jerusalém apesar de ter sido prevenido pelo Espírito Santo (versículo 23) que o esperavam cadeias e tribulações. Se o seu espírito estava sob o controle do Espírito Santo (Romanos 8:16), ele estava justificado em continuar a viagem, mesmo quando os discípulos em Tiro, movidos pelo Espírito Santo, logo depois recomendaram que ele não fosse para Jerusalém (Atos 21:4).
Alguns comentaristas mantêem que a tradução correta destas palavras é "obrigado no Espírito" pois o pronome meu não se encontra no original nem se distinguem as letras maiúsculas das minúsculas. Neste caso era o Espírito Santo que impelia Paulo de maneira irresistível para que retornasse a Jerusalém: como nos casos anteriores, o Espírito Santo poderia ter impedido que Paulo continuasse sua viagem até lá.
Seja como for, Paulo declarou que considerava a sua vida menos importante do que completar a sua carreira e seu ministério para testemunhar o evangelho da graça de Deus. Mais tarde, de sua prisão em Roma, quando sua vida aqui na terra estava para terminar, Paulo escreveria a Timóteo: "combati o bom combate, completei a carreira, guardei a fé" (2 Timóteo 4:7); ele sabia que tinha completado a sua missão.
A sua prisão lhe deu a oportunidade de escrever as suas epístolas, parte importante do alicerce da nossa fé, mediante as quais o evangelho ainda é pregado em todo o mundo; o seu testemunho escrito atingiu e ainda alcança imensamente mais pessoas do que as que ouviram seu testemunho verbal. No entanto, quando ele havia completado a sua carreira, ele podia ver apenas uma pequena parte do efeito do seu trabalho.
Paulo tinha uma meta clara e definida para a sua vida, e todo aquele que se empenhe em ser um obreiro do Senhor deve seguir seu exemplo: a meta de Paulo era testemunhar ao mundo o evangelho da graça de Deus, substanciada na vida, morte e ressurreição de Cristo para a salvação dos que nele crêem. Deus ainda precisa de obreiros, como Paulo, cujas vidas sejam dedicadas inteiramente a dar esse testemunho ao mundo. A eles o Espírito Santo impelirá e impedirá conforme os superiores desígnios de Deus.
Em seguida Paulo define a meta dos supervisores (chamados bispos, presbíteros ou anciãos):
Pastorear a igreja de Deus.
Os supervisores devem cuidar de si e do rebanho a eles confiado (é de notar que cada igreja tinha uma pluralidade de supervisores encarregados do pastoreio). Não lhes compete presidir sobre o rebanho, como se fossem seus proprietários, pois é a igreja de Deus, comprada por Ele com o Seu próprio sangue, sendo Ele o Pastor e Bispo das suas almas (1 Pedro 2:25); esses homens são constituidos supervisores (os presbíteros, Atos 20:17, chamados bispos, 20:28) sobre o rebanho pelo Espírito Santo, e terão um dia que prestar contas pela sua atuação. Sua responsabilidade é a mesma que o Senhor passou a Pedro (João 21:16, 1 Pedro 5:2).

Devem estar atentos aos lobos vorazes: o diabo anda em derredor, procurando alguém para devorar (1 Pedro 5:8), e muitos fazem o trabalho dele, por que são inimigos do Evangelho. Alguns são lobos disfarçados de ovelhas: falsos profetas e mestres (Mateus 7:15).

Também devem precaver-se contra aqueles que se levantarem dentro da própria congregação, mesmo entre os supervisores (dentre vós mesmos), falando coisas pervertidas para arrastar os discípulos atrás deles (é o início das heresias). Falsos ensinos motivados por ganância e orgulho, envolvendo filosofia, imoralidade, asceticismo (Colossenses 2:8,18; Efésios 4:14, 5:6, 1 João 2:19, Judas).

Além disso devem vigiar atentamente para manter a sã doutrina, de acordo com a Bíblia, que no início fora admoestada aos supervisores, um por um, pelo apóstolo Paulo.
O evangelho custou o precioso sangue de Cristo, acima de qualquer preço; a manutenção da verdadeira fé através de quase dois milênios custou imenso sacrifício, inclusive a vida, de pessoas e populações inteiras, martirizadas pelos inimigos do Evangelho, principalmente o falso cristianismo que procurou esmagar toda a oposição ao seu controle. A nossa fé é portanto preciosíssima e devemos vigiar para que se mantenha em sua pureza.
Finalmente, devem trabalhar para o seu próprio sustento e para socorrer os necessitados, seguindo o exemplo de Paulo. "Mais bem-aventurado édar do que receber" são palavras do Senhor Jesus registradas por Paulo e que não foram registradas nos Evangelhos.
O obreiro cristão não deve ambicionar riquezas materiais para si, nem cobiçar o dinheiro ou bens do rebanho de Cristo: Paulo trabalhava para sustentar-se a si e para ter o que dar aos seus companheiros. Ele nunca cobrou nada a ninguém pelo seu ministério na obra de Deus.
Por outro lado, o mesmo apóstolo Paulo ensinou que devem ser considerados merecedores de dobrados honorários os presbíteros que presidem bem, com especialidade os que se afadigam na Palavra e no ensino, pois a Escritura declara: "Não amordaces o boi, quando pisa o grão; e ainda: O trabalhador é digno do seu salário" (1 Timóteo 5:17-18).
Resumindo:
  1. o supervisor não deve pedir sustento do rebanho, mas trabalhar ele próprio, se necessário, para se suster;
  2. as igrejas têm o dever de contribuir para o sustento dos supervisores, particularmente os que trabalham bem e dedicam muito ou todo o seu tempo ao evangelismo e ensino. Assim classificamos os obreiros "de tempo integral", e é por isso que temos a IDE e outros instrumentos para reunir as ofertas das igrejas e canalizá-las a esses trabalhadores.
  3. Em conclusão, ecoando as palavras inspiradas de Paulo, esperamos que
    os mensageiros de Cristo continuem humildes e perseverantes, testemunhando do Evangelho de Cristo em todo o lugar,
  4. que os supervisores do rebanho se mantenham atentos aos inimigos da fé e aos falsos ensinos, e vigiando pela sã doutrina,
  5. e que as igrejas estejam sempre cônscias da sua responsabilidade para suprir as necessidades dos que se afadigam na Palavra e no ensino, para que tenham todo o seu tempo disponível para aplicar-se à obra.
E, repetindo as palavras finais da sua carta de Paulo aos efésios:
Paz seja com os irmãos, e amor com fé, da parte de Deus Pai e do Senhor Jesus Cristo. A graça seja com todos os que amam sinceramente a nosso Senhor Jesus Cristo.

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