segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Afeganistão sofre com aumento no número de viciados

Os viciados rondam as ruas desse posto de fronteira como esqueletos ocos, com cabelos imundos e olhos vítreos. As aldeias que margeiam as estradas são verdadeiras cidades de zumbis, nas quais famílias de homens, mulheres e crianças ocultam seu vício no interior de precários abrigos de barro.
"Às vezes sinto que seria melhor morrer que viver assim", diz Haidar, 30, que está sentado no chão de sua sala de estar, ao lado de uma latinha cheia de um pó parecido com açúcar. Sua família --mulher e filhos pequenos-- também exibe rostos emaciados pelo vício.
No oeste da província de Herat, apontada como ilha de estabilidade e progresso no Afeganistão, Islam Qala, uma solitária cidade de fronteira, serve como prova de uma crise cada vez mais forte: por muito tempo o maior produtor mundial de ópio, agora o Afeganistão se tornou uma das sociedades com maior número de viciados.
O número de dependentes químicos do Afeganistão é estimado em até 1,6 milhão de pessoas, ou 5,3% da população, uma das proporções mais altas do planeta. No país, 10% dos domicílios urbanos têm pelo menos um usuário de drogas. Na cidade de Herat, a proporção é de 20% dos domicílios.
De 2005 a 2009, o uso de opiáceos dobrou, de acordo com a ONU, o que coloca o Afeganistão em posição semelhante à da Rússia e Irã, e o número de usuários de heroína subiu em mais de 140%.
Em um país que sofre inúmeras adversidades, de uma longa guerra a séria corrupção, a dependência química tem baixa prioridade nas ações do governo. As verbas governamentais para tratamento de viciados são de menos de US$ 4 milhões ao ano. Há pouco menos de 28 mil vagas formais para tratamento.
O foco da comunidade internacional e do governo do Afeganistão vem sendo a redução da produção de ópio. Desde o começo da guerra, em 2001, os norte-americanos gastaram mais de US$ 6 bilhões para reprimir a indústria do ópio no Afeganistão, com erradicação e subsídios a safras alternativas. A campanha enfrenta dificuldades, e em muitas regiões a erradicação foi abandonada.
Nos dois últimos anos, o cultivo de ópio subiu ao seu mais alto nível desde 2008, já que a demanda mundial e os preços continuam robustos.
O imenso volume de suprimento alimenta a demanda interna. A falta de opções de tratamento, como o uso de metadona como substituto ou de um plano para resolver a crise, cimenta a situação.
Talvez nenhuma outra região do Afeganistão ofereça um retrato mais sombrio do vício do que a província de Herat. O abuso de drogas se enraizou na comunidade local, infectando aldeias inteiras em torno de Islam Qala, o que inclui crianças pequenas viciadas como fumantes passivas de ópio.
"A região toda está viciada", diz Arbah Shahabuddin, ancião de Islam Qala. "Se você tira os sapatos, os viciados os roubam".

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