sábado, 28 de julho de 2012

Os desafios de Deus para nossa vida.


“E aconteceu, depois destas coisas, que tentou Deus a Abraão...E disse: Toma agora o teu filho, o teu único filho... E oferece-o ali em holocausto... E estendeu Abraão a sua mão e tomou o cutelo para imolar seu filho. Mas, o anjo do Senhor bradou desde os céus e disse: Não estendas a tua mão sobre o moço... Porquanto agora sei que temes a Deus...” Gn. 22:1-14

O desafio de Deus a Abraão nessa passagem é, ao lado do sofrimento de Jó, um dos temas existenciais mais fortes do Velho Testamento. Não é necessário ser pai para imaginar que emoções Abraão vivenciou ao longo do percurso de três dias até o lugar do sacrifício. Ele teve tempo suficiente para fugir do desafio, mas decidiu caminhar para o matadouro, mesmo que sua atitude significasse o aniquilamento de suas esperanças. O que poderia tê-lo levado a evitar o desafio de Deus e seguir um destino diferente, como fez o profeta Jonas, é o que veremos nesse pequeno texto.


1. Apego demasiado às conquistas do passado.


Abraão, num primeiro momento, eu imagino, pode ter vacilado. Abandonar o que conquistara a tanto custo, tantas lágrimas, tanta energia afetiva, tanto investimento de tempo e atenção, para depois ver seu sonho, sua referência de alegria e sua esperança de posteridade ser arrancada de maneira tão cruel, não era racional. Ele poderia ter ficado estancado nas páginas que já tinha escrito na vida, afinal de contas, o que é conhecido parece mais seguro. Caminhar rumo ao desconhecido é tarefa penosa.

Nós, também, muitas vezes, deixamos de caminhar para frente por causa do que conquistamos no passado: uma profissão, uma propriedade, um negócio, uma posição social, etc. Nós nos apegamos demasiadamente ao osso que conseguimos ganhar, principalmente, quando o desafio do movimento seguinte implica em recuo ou perda. Mas, às vezes, para continuarmos caminhando, é necessário abrir mão do que nos é seguro hoje; aquilo que nos é caro e referência de importância. Por causa de uma colagem exagerada ao que ja temos na mão, podemos perder um mundo de possibilidades ainda desconhecidas, embora já sonhadas.


2. Falta de atenção aos sinais do presente.


Isaque foi o filho da velhice de Abraão, o riso de sua mãe e a alegria da casa. Debaixo de tamanha benção, a tendencia é armar a rede, curtir o momento e deixar a vida levar. Em princípio isso é saudável: usufruir das conquistas faz parte da vida. Mas, o problema é a conformação, o abandono da posição de jornada, a postura de caminhante.

Quando tudo vai bem, corremos o risco de nos acomodar, e é nesse ponto que mora o perigo. No oásis tendemos a fabricar ídolos, corromper nosso caráter e até negociar nossos princípios para garantir nossa permanência ali. É então que Deus, através da dinâmica da vida, nos envia sinais de insatisfação, que nos mostram pontos de deterioração, seja num contexto de casamento, trabalho, amizades, vida emocional e até no corpo.

Antes da tragédia final, a vida manda sinais que emergem das profundezas do inconsciente, do ambiente físico, ou das dinâmicas relacionais. Os sinais estão normalmente ao redor: uma praga na lavoura, antes de se tornar visível aos olhos do público, é facilmente detectada pelos olhos treinados de um agricultor. Uma dente apodrecido geralmente começa com uma pequena cárie que o público não percebe. Mas, um dentista é capaz de ver um pequeno sinal de deterioração até no sorriso de um passante. É por isso que a Bíblia nos ensina a ler os sinais dos tempos. Para isso, é necessário treinar os olhos para ver o aqui e agora.

Como aqueles homenzinhos da parábola de Spencer (“Quem mexeu no meu queijo”), ficamos surpresos quando, um belo dia, não encontramos mais o queijo que sempre esteve ali. Dai a moral da estória: cheire constantemente o seu queijo para ver se há sinais de desgaste, e mude rapidamente de estratégia ou de lugar. Não é uma questão de “se” mas de “quando” você terá de se reiventar se quiser sobreviver quando seu Isaque, ou seu queijo, for tirado de você.


3. Medo das incertezas do futuro.

Isaque era para Abraão o filho da promessa, o cumprimento da esperança, a garantia do riso futuro. O mesmo Deus que lhe dera o presente, agora o exigia de volta, e de um modo, no mínimo, esquisito. O medo das incertezas do futuro, sem Isaque, poderia ter levado Abraão a fugir do desafio. Assim, também nós, na maioria das vezes em que somos desafiados a abrir mão de nosso “queijo” o medo do desconhecido nos invade. As incertezas do amanhã podem nos paralisar no presente.

Na Odisséia de Homero, Odisseu voltava para casa, depois da guerra de Tróia, quando foi violentamente atacado por gigantescas ondas enviadas por Poseidon, o pai do ciclope a quem ele cegara. Já estava quase entregando os pontos, quando a ninfa Ino deu-lhe um véu, instruído-o a se lançar no mar e nadar até a Costa. Ulisses exitou! Teve medo de abandonar o único lugar seguro que julgava possuir: o que restara de uma balsa improvisada. Foi quando Poseidon mandou uma onda ainda mais violenta e ele resolveu dar o salto. Foi sua salvação, pois, se tivesse ficado agarrado à madeira, teria sucumbido.

Precisamos discernir o momento em que temos de abandonar o barco, aquilo que julgamos ser nossa tábua de salvação. Normalmente, é num contexto de crise que Deus como um véu de proteção e nos desafia a nadar por entre as ondas. Isso é o que Paul Tillich chama de Kairós: o tempo de Deus, a oportunidade de dar o salto.

Kairós é tempo oportuno, diferentemente de cronos, que é tempo-relógio, nossa agenda pessoal. Nossa agenda procura naturalmente as zonas de conforto, mas agenda de Deus, normalmente nos e dada na crista da onda, no olho do furacão.

Finalmente, quando Abraão levantou a mão para sacrificar o filho, o anjo o impediu, destacou sua fé e mostrou-lhe um sacrifício substituto. Deus não queria sangue! Deus queria a atitude de fé, de coragem e de compromisso com valores eternos. Por isso, Abraão chamou aquele lugar “O Senhor proverá.”

O Deus que prova é o Deus que provê. Por isso, preste atenção aos sinais do presente, não se apegue exageradamente às conquistas do passado, e se sentir na plataforma da alma que deve dar o salto, não exite, mesmo que o futuro pareça incerto.
 
AP.Jorge Castilho

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