sábado, 9 de junho de 2012

Miqueias , um profeta que faz suas denúncias.

Há em Miquéias 2.1-5, uma denúncia com relação aos que “planejam a maldade” e “tramam o mal” e que quando tem a oportunidade “executam, por que isso eles podem fazer”. E qual é o mal que esses aos quais Miquéias está denunciando?
Podemos identificar segundo o texto do profeta que eles são os que “cobiçam terrenos e se apoderam deles e cobiçam casas e as tomam.
 Fazem violência ao homem e à sua família; a ele e aos seus herdeiros”.
Podemos perceber que neste momento o profeta Miquéias está colocando como alvo de suas denúncias alguns homens que tem um certo poder dentro da estrutura política judaíta. Eles estão atrás de tomar as casas e a terra dos pequenos do povo de Israel e o fato é que eles podem fazer isso, como o próprio profeta nos informa no versículo 1.
É importante ressaltar que as terras eram as propriedades mais importantes que os judeus tinham pois era através delas que conseguiam obter o seu sustento.
Se uma família não possuía terra então não poderia produzir nada e, por conseguinte não poderiam se sustentar tendo que trabalhar para outros como escravos ou servos.

O que nos importa aqui é notar que dentro de uma estrutura política que em nosso caso é a da cidade é possível encontrar pessoas que tem o poder de tramar e executar o mal contra os menores dessa sociedade.

 O profeta esta nos alertando que devemos buscar formas de denunciar esse abuso de poder.
Os poderosos queriam as terras, a forma de sustento das famílias judaicas e quando tivessem uma oportunidade, eles as tomavam, as terras e as casas dessas famílias.
Então o profeta anuncia ou ameaça os opressores e acumuladores de terras com um castigo de Deus que da mesma forma que eles esta planejando e tramando o mal contra eles.
O profeta nesse momento utiliza um critério da lei de talião, olho por olho e dente por dente, quando determina que os acumuladores de terras perderão os seus campos expressada no versículo 4 da capitulo 2.
Logo após isso há um discurso dos opressores e acumuladores de terra dando a idéia de um dialogo colocado pelo narrador do texto.
 Os opressores reclamam acerca da pregação dos profetas do campesinato que denunciam e ameaçam os acumuladores de terras, principalmente expressa no v. 6 e mais ainda se consideram como os retos e que isso é um bem que Deus tem feito para eles.
Podemos identificar aqui claramente a presença de dois discursos teológicos bem distintos encontrados no texto de Miquéias e que podem ser colocados em oposição um ao outro.
 O primeiro é a teologia do estado, ou dos opressores, que são acusados por acumular e roubar a terra das famílias do campo, e o segundo discurso teológico é o do próprio campesinato, representado pelo profeta Miquéias e corresponde a uma teologia do povo oprimido de Israel.
Pois então Miquéias coloca em confronto direto os discursos em busca de uma maneira de demonstrar como a teologia imposta pelo estado é de má índole e com maus objetivos, não busca o bem comum da nação de Israel, mais sim o seu próprio bem e justiça.
Com isso quero insinuar que a teologia do estado comentada por Miquéias pode facilmente ser identificada como a teologia pregada pela cidade nos dias atuais e por isso servir de base para uma crítica da própria estrutura estatal e pública.
O conflito entre os discursos continua quando Miquéias coloca uma realidade imposta pelo estado que é a dos impostos que segundo o profeta “além da túnica, arrancam a capa” e “tiram as mulheres do meu povo de seus lares agradáveis”.
 Ele coloca assim que a cidade sobrecarregava a população a tal ponto de perderam suas próprias vestes e seus lares, que são as mais básicas necessidades para a sobrevivência.
Por fim Miquéias faz uma dura crítica aos profetas e pregadores que legitimam essa opressão que o estado exercia e diz assim “Se um mentiroso e enganador vier e disser: Eu pregarei para vocês fartura de vinho e de bebida fermentada, este será profeta deste povo”. Com isso Miquéias caracteriza uma pregação triunfalista no meio estatal que precisava ouvir sobre prosperidade mesmo sendo à custa do próprio povo que sofria com os abusos impostos pela estrutura política.
Miquéias então coloca em conflito uma nova categoria de discursos, uma que é expressa pelos opressores no versículo 4 e pelos oprimidos nos versículos 12 e 13. O que está em jogo aqui é quem realmente faz parte do povo de Deus. Tanto um quanto o outro clamam para si tal status político e Miquéias fala duramente acerca disso quando diz que Deus está para reunir o remanescente de Israel, o campesinato, e Javé será o rei deles, em resposta à monarquia onde Deus não reinava e sim uma dinastia de homens.
Logo no início do capítulo 3 Miquéias tematiza mais um aspecto da estrutura estatal do povo judeu, os tribunais, e tece uma dura critica a eles. Em uma lógica bastante simples acontecia assim, o campesinato que era prejudicado pelos acumuladores de terras se sentia no direito de procurar meios legais da justiça ser executada e procuravam os chefes da casa de Jacó, ou seja os tribunais, e estes corrompidos e subornados davam parecer injusto para favorecer os próprios acumuladores. 
Miquéias fala diretamente aos chefes de Jacó e aos governantes de Israel fala duramente que eles deveriam conhecer a justiça, mas ao contrario disso, odeiam o bem e amam o mal. Miquéias esta destacando a corrupção do estado judeu que já aderia ao sistema de acumulação de terras em detrimento às pequenas famílias do campo. A partir disso Miquéias destaca o efeito que essa injustiça causa no povo.
Utilizando uma linguagem metafórica vindo da culinária, Miquéias diz que os chefes e governantes estão arrancando a pele do povo e a carne dos seus ossos, e os comem como se fossem carnes de panela. Essa linguagem dura e cruel significa o mal que os governantes, por sua corrupção, tem feito ao povo. As conseqüências desses atos acontecerão quando clamarem a Deus por socorro e Deus virar a cara para eles.
Vejam que vai se formando todo um ambiente de legitimação do sistema estatal onde nem mesmo aqueles que seriam os responsáveis pela justiça não a exercem. Os próximos alvos da denúncia de Miquéias são os profetas que legitimam o sistema estatal e monárquico de Judá. Os profetas tinham como função na nação de Israel o de educadores, ou disseminadores da ideologia da corte, pelo menos os que eram ligados ao templo.
Os profetas pregavam paz aos que mantinham as suas bocas cheias e pregavam guerra àqueles que não traziam nenhum tipo de beneficio financeiro para eles. Devemos entender que ser profeta nesse momento se tinha tornado uma profissão, e os que se declaravam como profetas viviam das ofertas que recebiam pelas suas profecias. Por isso podemos ver como os profetas pregavam prosperidade aos que eram de boa condição financeira e pregavam para os que não tinha boas condições, que estes estavam em guerra com Javé.
Miquéias faz uma dura crítica aos que são responsáveis pela educação do povo que está oprimido pelos acumuladores de terras e de recursos. É necessário se fazer essa crítica, pois estes deveriam ensinar o povo que estes estão sendo enganados e que deveriam de alguma forma se levantar contra a opressão do estado. Ao invés disso, esses profetas, desviam o povo, ou seja, dão ensinos deturpados e que favorecem exclusivamente os que fazem parte dessa classe de acumuladores de terras.
E mais faz um contraste entre esses profetas e ele mesmo como anunciador da parte de Javé. Ele se coloca como padrão de profeta quando diz que está cheio do Espírito de Javé e com força, justiça, e fortaleza, anuncia a mensagem da parte de Javé. Isso é de extrema importância, pois como esta sendo tratado aqui, dois discursos teológicos estão em confronto, e Miquéias vem para trazer à tona a tradição dos campesinos que está sendo massacrada e deturpada pelos profetas do estado. Os profetas se vendem e profetizam, ou ensinam a ideologia dos ricos e opressores, em troca de dinheiro. Dessa forma a injustiça social é pregada e ensinada ao povo como se fosse da parte de Javé.
Por fim para terminara essa seqüência de denuncias e ameaças ao sistema injusto de Israel e ao discurso político e teológico que legitimam esse sistema, Miquéias levanta uma denúncia contra os chefes da descendência de Jacó, aos governantes da nação de Israel, aos sacerdotes e aos profetas. Miquéias aqui faz um apanhado de toda a estrutura governamental e daqueles que a apóia.
O grande ponto deste bloco de denuncias que englobam o livro de Miquéias nos capítulos 2 e 3, é o fato de que este sistema está sendo construído com o sacrifício do povo. O sangue do povo esta sendo derramado e o governo está usando um discurso para tentar encobrir isso. Esse discurso é que o estado precisa se libertar de uma nação opressora, a saber, a assíria, e para isso os sacrifícios são precisos, porem o sacrifício dos mais fracos e menos favorecidos.
O fato é que Miquéias vem para representar uma linha teológica de que não se deve sacrificar seu povo para que o estado esteja livre de uma outra nação. Por fim o povo acaba morrendo de qualquer forma, e Javé vem em defesa do seu povo que não importa por quem esteja sendo oprimido precisa ser libertado. Há um conflito de idéias novamente quando esses opressores utilizam a fórmula, “O Senhor está no meio de nós”. Miquéias rebate essa idéia utilizando o discurso de que Javé somente está no meio daqueles que fazem o bem e aplicam o direito no meio do seu povo.
É importante extrair de Miquéias elementos que fundamentam os aspectos condenatórios da cidade. Podemos reconhecer como cidade toda a estrutura criticada por Miquéias que utilizam de seu poder para oprimir o povo e acumular as riquezas da terra. Nestes dois capítulos foram denunciados não só os próprios acumuladores de terras, mais como todo o sistema que legitima tais atos. Em troca de dinheiro, o ensino, os tribunais, e a administração estatal são deturpados.



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