quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Ágabo, uma profecia com dois pequenos erros

 

Depois de passarmos ali vários dias, desceu da Judéia um profeta chamado Ágabo. Vindo ao nosso encontro, tomou o cinto de Paulo e, amarrando as suas próprias mãos e pés, disse: “Assim diz o Espírito Santo: ‘Desta maneira os judeus amarrarão o dono deste cinto em Jerusalém e o entregarão aos gentios’” (Atos 21.10,11).
Parece que existem dois fatores conflitantes nessa passagem. Por um lado, a frase introdutória de Ágabo – “Assim diz o Espírito Santo” – sugere uma tentativa de falar como os profetas do AT que diziam: “Assim diz o Senhor…”.
Por outro lado, porém, os acontecimentos da própria narrativa não coincidem com o tipo de precisão que o AT exige daqueles que falam as palavras de Deus. Na verdade, pelo padrão do AT, Ágabo teria sido considerado como falso profeta, porque em Atos 21.27-35 nenhuma de suas previsões é cumprida.
Em primeiro lugar, Ágabo predisse que os judeus de Jerusalém “amarrariam” Paulo (At 21.11; a palavra grega traduzida por “amarrar” é deo). Contudo, quando Paulo foi efetivamente capturado em Jerusalém, mais tarde no mesmo capítulo, Lucas nos diz duas vezes que não foram os judeus, mas os romanos que amarraram Paulo: “O comandante chegou, prendeu-o e ordenou que ele fosse amarrado com duas correntes” (At 21.33).
Em segundo lugar, o “erro” da profecia de Ágabo refere-se ao segundo detalhe predito: o fato de que os judeus “entregariam” Paulo nas mãos dos gentios. Aqui, a palavra grega para entregar é paradidomi, que significa “dar voluntariamente, passar às mãos”. O ponto essencial do sentido dessa palavra é a idéia de “entregar”, “doar” ou “passar às mãos” de maneira ativa, consciente e proposital alguma coisa a alguém – esse é o sentido que aparece nas outras 119 ocorrências dessa expressão no NT.
A palavra paradidomi é usada, por exemplo, quando Judas “entregou” Jesus nas mãos dos líderes judeus (Mt 26.16); quando os judeus “entregaram” Jesus nas mãos dos romanos (Mt 20.19); quando João Batista foi “entregue” à prisão (Mc 1.14); quando Moisés “entregou” as leis ao povo (At 6.14); quando Paulo “entregou” ensinamentos à igreja (1Co 15.3). Nenhum dos outros 119 exemplos do uso dessa palavra no NT deixa de usar a idéia de uma ação consciente e intencional feita por quem faz a entrega.
Lucas na narrativa que se segue à profecia de Ágabo, ele mostra que os judeus não “entregaram” Paulo nas mãos dos gentios. Em vez de deliberadamente “passar Paulo às mãos” dos gentios – como os judeus haviam feito com Jesus, por exemplo, os próprios judeus tentaram matá-lo (At 21.31). Paulo precisou ser forçosamente resgatado dos judeus pelo tribuno romano e seus soldados (At 21.32,33). Mesmo assim, a violência do povo era tão grande que ele precisou ser carregado pelos soldados (At 21.35).
É importante notar que Lucas não tem intenção de mostrar que Ágabo proclamou uma profecia imprecisa. Essas palavras são apenas detalhes, alguém poderia dizer. Contudo, tal explicação não leva em conta de maneira plena o fato de que esses são os únicos dois detalhes que Ágabo menciona – em termos de conteúdo, eles são o cerne de sua profecia. De fato, esses detalhes são o que fazem dessa predição algo incomum. Provavelmente qualquer pessoa que soubesse de que maneira os judeus, por todo o Império Romano, haviam tratado a Paulo em várias cidades poderia ter “predito”, sem qualquer revelação do Espírito Santo, que Paulo enfrentaria violenta oposição dos judeus em Jerusalém.
O aspecto singular da profecia de Ágabo foi sua predição de que Paulo seria “amarrado” e “entregue nas mãos dos gentios”. Nesses dois elementos básicos, ele estava um tanto equivocado.


Pr. Marcello Oliveira
davarelohim.com.br/
O texto em tela não tem como finalidade debater a contemporaniedade dos dons espirituais. Eu, Pr Marcello Oliveira, creio firmemente na atualidade dos dons e seu uso na igreja atual.

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