terça-feira, 30 de agosto de 2011

Criança lambança - O PAPAI NOEL DA GLOBO

Wilson Correia

Nunca tomei a iniciativa de tirar o fone do gancho e ligar para o “Criança Esperança”, campanha que todo ano só faz desfilar as “estrelas” da “Vênus Platinada”, a Rede Globo, diante de nossos olhos. Essa emissora, que há anos assalta o bom senso e a inteligência dos brasileiros, com enlatados, novelas, programas de baixíssimo nível, continua defraudando a boa vontade de todos nós, e nos deseducando, quando anuncia que “o dinheiro arrecadado para o UNICEF” pode ser deduzido do Imposto de Renda, quando, na realidade, não pode, porque, no frigir dos ovos, quem figura nesse imbróglio como doadora é a própria “Rede Bobo”. Na verdade, a RG expropria dos verdadeiros doadores o direito de deduzir o que dão do Imposto de Renda.
Mas esse não é o maior mal que essa rede de televisão causa, anualmente, aos brasileiros. Sabemos que as corporações capitalistas –e a RG figura entre as primeiras do mundo no setor das comunicações– funcionam sob a égide da desumana lógica do lucro e da acumulação. São, aliás, os protagonistas principais da expropriação de bens alheios, a começar pela força de trabalho não paga. “Trabalho não pago”, aliás, pela via dos “salários mínimos” ou escorchantes, é a gênese de todo lucro no capitalismo, e que se estende ao repasse de produtos e serviços com larga margem de lucro, sem o que o capitalismo não existiria como modo de produção material da vida.
Em tese, então, uma corporação capitalista é antipática por natureza. Já imaginou o que aconteceria se todos e todas viessem a tomar a grave consciência de que uma empresa só existe e perdura à custa da “expropriação” compulsória, incrustada nas próprias relações diversificadas que os humanos travam no dia-a-dia das sociedades liberais?
Por conta disso, e para não parecer o real monstro que cada empresa, de fato, é, surge a necessidade de “dourar a pílula”, tornar sua presença na sociedade mais aceitável, fazendo crer que ela “faz o bem”, preza os “valores humanos” e ajuda a combater as diversas mazelas –como a fome, o analfabetismo, a doença– existentes na sociedade. Mazelas, diga-se, produzidas pelas próprias ações do capitalismo e de suas corporações. O negócio funciona mais ou menos assim: “Eu crio o faminto, depois saio pedindo dinheiro alheio para matar a fome dele”.
É fácil fazer “Graça com o chapéu alheio”, não é? Se considerarmos isso, a defraudação, o engano e o engodo se ampliam exponencialmente. É por isso que a “Rede Bobo” não é besta, mas, sistematicamente, faz os seus telespectadores de trouxas.
Eu não creio em mudanças de superfície. Você dá o pão hoje e daqui a pouco a fome voltará. Ensinar a produzir o próprio pão é que seria nossa maior tarefa. E, hoje, isso também não está bastando: teríamos que ensinar como se cultiva o trigo e tudo o mais de que se necessita para fazer massa virar pão. O capitalismo é um sistema tão perverso, acintoso e desumano que, para ele, até a fome e a morte dão lucro: servem para controlar os membros da sociedade ativa, aqueles que têm algum ganho e “rebolam” diuturnamente para se manterem vivos.
Não creio que “boa vontade”, “esmolas”, “doações” e nenhum outro tipo de voluntarismo possa ir além da conjuntura, essa superfície das coisas da vida que deixa intacta as estruturas. Para mudar as estruturas –econômicas, políticas e culturais– precisamos de ações que incidam nessas estruturas. E o “Criança Esperança”, como se vê, além de poder ser incluído como uma campanha em favor do lucro individual e fazer o lobo parecer cordeiro, apenas surfa na onda conjuntural de uma sociedade injusta, excludente, realmente desumana até mais não poder.
Por isso não ajudo nada que seja promovido pelas empresas individuais, que só alimentam e falseiam o sentido da propriedade privada.
Reconheço que, moralmente, não posso deixar o faminto morrer de fome. Se ele surge à minha frente, dou-lhe o prato de comida. Sei, porém, que meu ato se esgota na extinção daquela fome ali diante de mim. Sei que, segundo a Organização das Nações Unidas para a Agricultura e Alimentação (FAO), a cada minuto 12 (DOZE) crianças morrem de fome ao redor do mundo. É essa realidade que o “Criança Lambança” da “Rede Bobo” ajuda a esconder. Com o minha conivência e contribuição é que não vai ser. Prefiro lutar contra esse sistema e ser solidário com aqueles e aquelas que, mais castigados pela monstruosidade do Capital e dos Humanos, necessitam de minhas mãos.
Em um grau menorzinho em comparação aos que morrem de fome, eu também sou um explorado do sistema: como posso contribuir para a saúde e a ganância do meu próprio algoz?
Wilson Correia
Enviado por Wilson Correia em 07/08/2011
Reeditado em 08/08/2011
Código do texto: T3144819

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