quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

Alexandria. Comunidades cristãs na mira de radicais islâmicos


O atentado com um carro armadilhado no dia de Ano Novo frente a uma igreja em Alexandria, Egipto, provocou 21 mortos e 79 feridos e foi já amplamente condenado, não só pelas autoridades egípcias como pelo Papa Bento XVI, que define o atentado como "um acto vil de morte, como o de colocar bombas junto a casas de cristãos no Iraque para os forçar a partir, ofende a Deus e à Humanidade". 

Ontem pelo menos 20 pessoas foram detidas por envolvimento no massacre. No mesmo dia em que se celebrava o Dia Mundial da Paz, Bento XVI expressou o seu pesar pelas vítimas e pelos seus familiares, reiterando o apelo aos líderes mundiais para que defendam os cristãos: "Face às discriminações, aos abusos e à intolerância religiosa, que hoje atingem essencialmente os cristãos, uma vez mais faço um convite urgente a que não nos rendamos ao desânimo e à resignação", afirmou durante a missa de Ano Novo, na Basílica de São Pedro.

Enquanto as investigações prosseguem, as pistas sugerem o envolvimento de um grupo local de fundamentalistas islâmicos, que, apesar de não estar directamente ligado à Al-Qaeda, se inspira na organização: "A Al-Qaeda quer espalhar estas acções espontâneas, sem muito planeamento, para lançar o pânico e mostrar que está contra tudo e contra todos, diz José Manuel Anes ao i, acrescentando: "Não há dúvidas que o atentado se deve a grupos ligados à Al-Qaeda. A filosofia é a mesma: proclamaram desde sempre a luta contra os infiéis e os cruzados. Os primeiros são aqueles que não pertencem à sua religião, os segundos são os cristãos."

Perseguições De acordo com o "Relatório sobre a Liberdade Religiosa no Mundo 2010", apresentado pela Fundação Ajuda à Igreja Que Sofre, há 200 milhões de cristãos perseguidos em todo o mundo. Dos 194 países analisados no relatório, as maiores violações à liberdade religiosa acontecem na Arábia Saudita, no Bangladesh, no Egipto, na Índia, na China, no Usbequistão, na Eritreia, na Nigéria, no Vietname, no Iémen e na Coreia do Norte.

No Egipto há cerca de 20 milhões de cristãos (dos quais 5 milhões de católicos), entre os cerca de 356 milhões de habitantes. O ataque "foi uma atitude de uma franja fundamentalista", concorda D. Januário Torgal Ferreira, em entrevista ao i. O bispo das Forças Armadas Portuguesas acredita que o ataque "está relacionado com a intolerância religiosa" e acrescenta: "Infelizmente, o Ocidente já não estranha."

O acto sustenta as palavras de Bento XVI: "O ano foi marcado pela perseguição, pela discriminação, por terríveis actos de violência e de intolerância religiosa." D. Carlos Azevedo está de acordo e defende que "é um exemplo claro daquilo que disse na sua mensagem para o Dia Mundial da Paz. Os cristãos são perseguidos. Umas vezes de forma subtil, outras de forma descarada". 

Os bispos estão em consonância. De um lado, D. Januário Torgal Ferreira sublinha: "A tolerância religiosa deve existir em qualquer geografia e em qualquer história. Os cristãos devem vivê-la e exercê-la." Por outro lado, D. Carlos Azevedo afirma: "Uma religião não deve atacar ou ofender outra. Deus nunca pode ser chamado para fundamentar violências."

Nas últimas análises realizadas, Portugal é considerado um dos países europeus onde se verifica maior tolerância religiosa. É neste ponto que se afastam os responsáveis da Igreja. D. Januário Torgal Ferreira salienta que "sempre tivemos esta tradição, mas a verdade é que nunca tivemos muitas confissões religiosas, e isto é importante. Onde houve maior intolerância foi em sectores católicos, antes do concílio". No entanto não deixa de evidenciar: "Em Portugal tem-se aprofundado o ponto de vista ecuménico. A tolerância que existe é devida ao trabalho da Igreja e à promoção de proximidade às outras religiões." D. Carlos Azevedo alerta para "a índole cultural do país, que contribui para esta aceitação entre religiões. Portugal é um país que acolhe e que se expande".

O bispo das Forças Armadas sublinha ainda que estes grupos radicais, "ao atacarem o cristianismo, acham que estão a atacar os sistemas políticos do Ocidente", pelo que "esta é mais uma razão para o Ocidente ser tolerante e não cometer loucuras. A razão nunca se defende pela força, mas pela tolerância". Por sua vez, D. Carlos Azevedo, bispo de Lisboa, considera que "nos países onde os cristãos são minoritários é necessário que sejam vigiados, para que possam realizar os seus cultos em segurança".

José Manuel Anes lembra ainda que a "Al-Qaeda não abandonou totalmente os alvos políticos no Ocidente. Convém não esquecer a quantidade de conspirações terroristas que foram desmontadas agora na Europa. Essas têm uma dimensão política. Agora estas são um complemento."

Paulo Gorjão, director do IPRIS, entende também que "há aqui a intenção de atingir um público específico com uma motivação religiosa. E há, indiscutivelmente, a tentativa de provocar tensão política entre católicos e muçulmanos. O que ainda ninguém sabe, porventura, quando muito os serviços secretos egípcios poderão já ter algumas pistas, é se de facto os atentados são de origem externa, como alega o presidente Hosni Mubarak, ou se isso é uma forma de desviar as atenções". Resta perceber se este ataque "tem a ver com a agenda política interna, ou se tem a ver com células filiadas na Al-Qaeda central e que obedecem aos tais objectivos político-religiosos", acrescenta.
Fonte: i online (Portugal)

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