segunda-feira, 8 de novembro de 2010

O anticristo já chegou

O tema sobre o anticristo mexe com a imaginação cristã desde seu início. Por tabela, influenciou a cultura ocidental e motivou livros e filmes. Mesmo aqueles que sequer abriram a Bíblia um dia, têm em seu imaginário a idéia de alguém contrário ao Cristo. Nestes dois mil anos, não foram poucas as pessoas identificadas com este personagem. De fato, seguindo aquela lei não escrita de que o diabo é o outro, encarnaram ou foram encarnados involuntariamente na figura autores de males inomináveis ou que ganharam a raiva, a antipatia ou a inveja de grande parte da população por certa posição que ocuparam ou ainda ocupam no mundo.
João, em sua primeira carta, escrita no final do primeiro século, afirma: “e todo espírito que não confessa a Jesus não procede de Deus; pelo contrário, este é o espírito do anticristo, a respeito do qual tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo.” (1 Jo 4.3 – ARA) O contexto discute a negação da encarnação de Jesus e vê o sistema mundano como algo contrário a Deus. O autor cria que o anticristo estava presente e não o via como alguém que viria num futuro apocalíptico. É certo que o livro do Apocalipse refere-se a um número de homem que (Ap 13.18), em teoria, faria alusão ao anticristo personificado, acreditam alguns. Isto motivou aquela busca através dos séculos, de sorte que em cada tempo alguém foi identificado com o tal. E tome a calcular letras e fazer coisas engenhosas para encaixar os personagens no cabalístico 666.
Isto, porém, reforça a afirmação bíblica de que o anticristo, ainda que alguém o encarne num futuro, é muito mais um sistema contrário ao Cristo e seu Espírito, do que propriamente uma pessoa. Não seria errado dizer que a semente do anticristo estaria em cada ser humano. Donde se conclui que existiu desde sempre. Perambula entre os homens. Ainda assim, no presente momento, identificar tecnologias, como a do chip implantado no braço ou outro lugar, que permite um sem número de ações, inclusive comprar e vender (Ap 13.17), portanto, facilitaria o domínio das pessoas, não deve receber a identificação quase delirante de que aí está o anticristo. A questão é bem outra. Na base está a honra, o valor, o respeito, a fé, que se dedica ao Cristo. Deste modo, apenas se o sistema amparado por tecnologia específica nos pede a negação do Senhor, deve ser combatido, deve ser rejeitado. O espírito do cristianismo combate idéias que moldam pessoas e não os meios. De fato, os meios que sustentam e perpetuam tudo que é contrário a Deus, são movidos por pessoas, por uma cultura, pela mesma idéia babélica de afronta e de prover humanos escapes. Fala de uma autonomia exacerbada e arrogante. Disto se deve fugir, pois somos todos dependentes do sustento misericordioso do Senhor.
A marca da besta é a sutileza. As descrições apocalípticas joaninas talvez não se encaixem, pois são carregadas de imagens até espalhafatosas, mas trata-se de um recurso literário, arrodeado e vincado dos valores de seu tempo. O que quero dizer é que a negação da encarnação de Jesus se faz de modos muito mais imperceptíveis. É lá nos interstícios da alma que se aloja a rebelião. Ali onde ninguém vê. O próprio rebelde, em alguns casos, não percebe. Isto nos inclui a todos, em maior ou menor grau. O grau menor ficaria com aqueles que lutam contra si mesmos e se submetem ao senhorio de Jesus. Aprenderam que homem/mulher bom/boa é o esvaziado de si e ocupado pela graça, pelo Espírito Santo. Basta um pouquinho de nós para “levedar toda a massa”
Eu vejo o espírito do anticristo. Tropeço nele e às vezes, se insinua em mim. Ele está nas relações injustas que condenam milhões à indigência. Na crueldade grande e na pequena, sempre que o direito, o corpo, a mente de alguém é aviltada. Ele se esconde no capitalismo consumista, na acumulação desenfreada, na não partilha. Do mesmo modo, no sistema opressor que diz socializar bens para todos. Ele se aloja nos corações empedernidos incapazes de qualquer ação bondosa, mesmo quando instados a isso. Quando alguém se apequena na arrogância, na mesquinharia, pois todos estes praticam o pecado do orgulho que nada mais é que elevar-se alto demais.
O anticristo conspira dentro dos palácios, nos governos, em instituições religiosas toda vez que o ser humano é utilizado como massa de manobra e lhe são negados direitos. O danado se imiscui em toda conspiração por poder, mesmo naquelas escamoteada de religiosidade. Muito mais nestes. Ele afaga mentes e corações materialistas, que acreditam que o ter é tudo e nada fora disso tem valor.
O anticristo transforma-se e encarna em políticos, pastores, padres, profissionais, pais e mães. Ele nada respeita. Do mesmo modo, se traveste de pobre, mendigo, miserável e nestes e por estes perpetua as mais terríveis ações. Até as crianças hoje são corrompidas pelo espírito do anticristo. Ele nunca se cansa, nunca se afasta, está sempre à espreita. Cutuca, arromba, invade, sem cerimônia se não se está atento. Engana, disfarça, embrutece e, quando um não se dá conta, já está enlaçado e ainda justifica ou alinha sua vontade incontrolável a coisas boas. Tudo que ele toca fica sujo, mesmo um altar, uma cama, um prato.
Eu vejo o anticristo passeando nas ruas, nas lojas, nos bares, nos prédios bonitos e no casebre. Como disse João, “tendes ouvido que vem e, presentemente, já está no mundo”. Então, em vez de buscar sinais do anticristo num personagem qualquer de hoje ou do passado, coisa à qual muitos se dedicam, digo-lhes, ele não está lá fora. Enquanto se olha no horizonte ele anda entre nós, talvez em alguns de nós.
Combatê-lo, renegá-lo, depende do tornar-se, cada um, cristos. É possível? Pela graça, só pela graça de Deus.
“Meus filhinhos, vocês são de Deus e têm derrotado os falsos profetas. Porque o Espírito que está em vocês é mais forte do que o espírito que está naqueles que pertencem ao mundo. (1 Jo 4.4)

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