terça-feira, 30 de novembro de 2010

Num reduto da Indonésia, população abraça o judaísmo

Área da fronteira norte da Indonésia, conhecida como o lar de grupos cristãos evangélicos tornou-se um cenário de sentimentos pró-judaicos.

Uma nova menorá, de 19 metros de altura, talvez a maior do mundo, ergue-se numa montanha com vista para a cidade da Indonésia, uma cortesia do governo local. Bandeiras de Israel podem ser vistas em pontos de mototáxi, um deles próximo de uma sinagoga construída há seis anos, que foi reformada, ganhando até um telhado com uma grande estrela de Davi, com dinheiro das autoridades locais.

Conhecida há tempos por ser um reduto cristão e mais recentemente como o lar de grupos cristãos evangélicos e carismáticos, esta área próxima da fronteira norte da Indonésia se tornou um cenário improvável para demonstrações públicas cada vez maiores de sentimentos pró-judaicos à medida que algumas pessoas abraçam a religião de seus antepassados, os judeus holandeses. Com a bênção do governo local, eles estão cavando um pequeno espaço na paisagem religiosa às vezes estranhamente mutante da Indonésia, país com a maior população muçulmana do mundo.

A tendência chega no mesmo momento em que grupos extremistas islâmicos se tornam mais ousados em seus ataques a cristãos e outras minorias religiosas em outros lugares da Indonésia. E o governo central, temendo ofender os grupos muçulmanos, faz pouco para evitar os ataques. Em novembro passado, extremistas que protestavam contra a guerra de 2008/2009 em Baza fecharam a sinagoga centenária de Surabaya, a mais importante remanescente da antiga, porém pouco conhecida, comunidade judaica da Indonésia, na segunda maior cidade do país.

Isso fez com que a sinagoga de uma cidade próxima a Manado – fundada por indonésios que ainda lutam para aprender sobre o judaísmo e frequentada por cerca de dez pessoas – se tornasse a única casa de oração judaica do país. Antes de buscar a ajuda às vezes suspeita de comunidades judaicas de fora da Indonésia, eles pesquisaram sobre o judaísmo num cyber café. Eles dizem brincando que procuraram o Rabino Google em busca de respostas. Imprimiram páginas da internet para compilar uma Torá. Buscaram os pontos mais específicos das preces no YouTube.

“Estamos apenas tentando ser bons judeus”, disse Toar Palilingan, 27, que, usando um terno preto e um chapéu de abas largas no estilo ultra-ortodoxo, liderou um jantar de Sabbath na casa de sua família recentemente, com dois convidados.

“Mas se você nos comparar com os judeus de Jerusalém ou do Brooklyn”, acrescentou Palilingan, que agora também é conhecido como Yaakov Baruch, “verá que ainda não chegamos lá”.

A Indonésia e Israel não têm relações diplomáticas, mas mantiveram discretos laços militares e econômicos ao longo das décadas. Nos últimos anos, empresários judeus de Israel e de outros lugares viajaram sem alarde para o país em busca de oportunidades de negócio.

Moshe Kotel, 47, que nasceu em El Salvador e tem cidadania israelense e norte-americana, viaja a Manado todos os anos desde 2003 e tem seu próprio negócio de ovos orgânicos. Kotel, cuja esposa é da região, diz que ficou nervoso na primeira vez que desembarcou no aeroporto na Indonésia.

“Eram 11 da noite, e eu sempre carrego a tefilin comigo”, diz Kotel, referindo-se às pequenas caixas de couro que guardam passagens das escrituras. “Mas desde que vi bandeiras israelenses nos táxis no aeroporto, sempre me senti bem recebido aqui.”

O governo de Minahasa do Norte, um distrito predominantemente cristão, construiu uma menorá gigante no ano passado, avaliada em US$ 150 mil, diz Margarita Rumokoy, chefe do departamento de turismo do distrito.

O legislador local Denny Wowiling disse que propôs a construção da menorá depois de ficar sabendo da que existe em frente ao Knesset de Israel. Ele esperava atrair turistas e empresários da Europa.

“É também para que os judeus vejam que este símbolo sagrado, o símbolo sagrado deles, existe fora de seu país”, diz ele.

Wowiling, cristão pentecostal, enfatizou que os cristão e muçulmanos vivem pacificamente na província, Sulawesi do Norte, mas reconheceu que “há temores de que sejamos alvos de pessoas de fora.”

O aumento dos sentimentos pró-judaicos também parecem ser uma consequência do movimento cristão evangélico e carismático que com a ajuda de missionários norte-americanos e europeus se enraizou na Indonésia na última década. Alguns especialistas veem esse movimento como uma reação contra o papel cada vez maior do Islã ortodoxo na maior parte da Indonésia.

“Em Manado, o cristianismo sempre teve uma forte marca de identidade na crença de que é contrário ao mar de islamismo circundante”, diz Theo Kamsma, acadêmico da Universidade de Haia que estudou o legado judaico de Manado. O cristianismo e o ressurgimento do judaísmo compartilham uma natureza “rebelde”, diz ele.

Dois anos antes que a menorá fosse construída, um empreendedor imobiliário cristão ergueu uma estátua de 30 metros de altura de Jesus Cristo no topo de uma colina; a estátua tem cerca de três quartos do tamanho do Cristo Redentor no Rio de Janeiro. No centro da cidade, igrejas de uma variedade de denominações agora ficam a poucas centenas de metros de distância umas das outras.

Durante o domínio colonial holandês, as comunidades judaicas se estabeleceram nas principais cidades comerciais onde costumavam atuar no ramo imobiliário, agindo como mediadoras entre os governantes coloniais e a população local, diz Anthony Reid, acadêmico que estuda o Sudeste Asiático na Universidade Nacional Australiana. Como o Islã costumava ser moderado na Indonésia, os sentimentos anti-judaicos nunca foram fortes.

“Os sentimentos anti-judaicos vieram de fato nos anos 80 e 90, tudo por causa do conflito israelense-palestino”, diz Reid.

Em Surabaya, num cemitério judeu hoje tomado pelo mato, os túmulos indicam que até 2007 eram enterradas pessoas ali. A sinagoga, localizada numa rua principal, ficou inativa durante a última década, mas ainda é usada para serviços funerários.

“Nós nunca tivemos nenhum problema até o ano passado”, diz Sunarmi Karti, 46, uma mulher indonésia de Surabaya que ainda vive numa casa dentro do complexo da sinagoga, e cujo padrasto era judeu.

Em Manado, as famílias descendentes de judeus holandeses praticavam sua fé abertamente antes que a Indonésia conquistasse sua independência da Holanda em 1949. Depois disso, elas se converteram para o cristianismo ou para o Islã por segurança.

“Dissemos a nossos filhos para nunca falarem sobre nossas origens judaicas”, diz Leo van Beugen, 70, que foi criado como católico romano. “Então nossos netos nem sabem.”

Van Beugen é tio-avô de Palilingan, que liderou o jantar de Sabbath.

Faz apenas uma década, durante uma conversa tensa sobre a Bíblia e Moisés, que a tia-avó de Palilingan deixou escapar que a família tinha raízes judaicas. Palilingan – professor de direito na Universidade Sam Ratulangi, onde seu pai, um cristão, e sua mãe, muçulmana, também dão aulas no mesmo departamento – descobriu que os parentes do lado de sua mãe descendiam de um imigrante judeu holandês do século 19, Elias van Beugen.

Sua tia-avó sugeriu que ele se encontrasse com os Bollegrafs, que havia sido a família judia mais importante de Manado. Oral Bollegraf, hoje com 50 anos, foi um cristão pentecostal durante toda sua vida, mas sabia que seu avô havia mantido a única sinagoga de Manado na casa da família.

“Nós nunca reconhecemos que éramos judeus”, disse Bollegraf, que recentemente foi a Israel com Palilingan, durante um jantar de Sabbath. “Mas todos na cidade sabiam que éramos uma família judaica.”

Palilingan fez contato com o rabino que estava mais próximo, Mordechai Abergel, um emissário do movimento Chabad Lubavitch, sediado no Brooklyn, em Cingapura. Abergel disse que Palilingan havia feito um “bom trabalho” tentando reconectar-se com suas raízes judaicas, embora ele ainda tivesse que passar por uma conversão completa.

Comprometido com o que ele chama de “pureza” do judaísmo ultra-ortodoxo, Palilingan às vezes usa sua roupa preta e branca típica de fiel em público e até mesmo em Jacarta.

“A maioria dos indonésios nunca encontraram nenhum judeu, então eles acham que sou do Irã ou de outro lugar”, diz Palilingan. “Uma vez, um grupo de manifestantes islâmicos vieram até mim e disseram: 'Sallam aleikum'”, que a paz esteja convosco.

Fonte: The New York Times

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