sábado, 13 de novembro de 2010

A dor de uma mãe

Depois de perder o único filho,de 17 anos, assassinado em frente à escola onde estudava, Maria Lucinéa luta por justiça e busca forças para recomeçar a vida

Por Elliana Garcia


“Me sinto anestesiada. É como se estivesse sonhando e a qualquer momento fosse acordar de um pesadelo. Mas ele tem sido interminável”. Assim começa o relato da recepcionista Maria Lucinéa Bento, de 46 anos, mãe do estudante Leonardo Bento do Amaral (juntos na foto), que aos 17 anos foi atingido por uma bala disparada da arma de uma policial militar em frente a uma escola, na região de Santo Amaro (zona sul de São Paulo), no dia 22 de setembro último. Leonardo morreu.
Nascida em Minas Gerais, Lucinéa chegou a São Paulo ainda menina. Cresceu na capital paulista, casou, e da união, que durou 6 anos, nasceu Leonardo, seu único filho. “No início do meu casamento até pensei em ter mais filhos, mas como o relacionamento não estava muito bom, tive apenas o Léo, e depois da separação passei a viver só para ele”, diz a recepcionista.
 Leonardo, segundo a mãe, era um rapaz tranquilo, que cursava o 2º ano do ensino médio, fazia cursos de inglês e sonhava em fazer engenharia mecânica. A mãe, que trabalhava para sustentar o filho e queria que ele se dedicasse aos estudos, sonhava que, através da educação, pudessem ter uma vida melhor. Mas um ponto final interceptou os sonhos do garoto e abriu uma ferida de revolta e saudade no coração da mãe.
A despedida
O dia 22 de setembro de 2010 havia amanhecido como outro qualquer. Maria acordou para trabalhar e o filho para ir à escola. “Naquele dia ele se despediu de mim com um sorriso no rosto e dizendo que me amava. Estava extremamente feliz”, recorda.
Por volta das 17h45, uma ligação para o celular de Maria dava conta de que o filho estava hospitalizado. “Meu irmão me ligou dizendo que o meu filho não estava bem e que estava no Hospital das Clínicas”.
Ao chegar ao hospital, Lucinéa soube que o filho havia sido baleado na cabeça e que havia tido morte cerebral. “Eu estava tão atordoada que não me dei conta da gravidade da situação. Liguei para a minha chefe, que é médica, disse para ela que meu filho tinha tido morte cerebral e perguntei se era grave”, relembra.
Uma morte violenta, que ela só havia visto nas páginas policiais, batia à sua porta e, a partir daquele momento, era a história de seu filho que era manchete de telejornais.
“Meu mundo desabou. Que dor dilacerante é essa de perder um filho. Ainda mais o meu único filho. Estou anestesiada. Penso que a qualquer momento o Léo vai voltar para casa. Ao mesmo tempo, sinto uma dor tão grande que não dá para explicar. Meu único filho, que era um adolescente como qualquer outro, morrer assim, do nada, de uma arma disparada por quem deveria defendê-lo. É revoltante. Quero justiça, mas tenho que me acostumar que nada vai trazer o meu filho de volta, nem dar fim a essa dor que está no meu coração.”
Vários estudantes da escola e amigos de Leonardo se mobilizaram e fizeram protestos contra a morte dele. “Ver toda essa mobilização da comunidade, dos amigos e colegas de escolas, me emocionou demais. Só mostrou o quanto o meu filho era querido, amado e do bem. Mesmo passando o dia fora, trabalhando, eu sempre fui uma mãe presente, que impunha limites e amava o meu filho. Eu fiz por ele tudo o que tinha que fazer, mas a dor dessa perda é grande demais”.
Mesmo impactada com a morte do único filho, Lucinéa encontrou forças para doar os órgãos de Leonardo e tenta retomar a vida buscando forças no trabalho e principalmente na fé.
O caso
Segundo relatos, vários estudantes estavam reunidos em frente à Escola Estadual Luís Magalhães de Araújo, na estrada do M´Boi Mirim, na zona sul de São Paulo, quando um tiro disparado da  arma de uma policial militar atingiu a cabeça do garoto, que estava saindo do local na garupa da moto de um amigo. De acordo com a policial, o tiro foi acidental. Segundo testemunhas, ela teve a intenção de atirar. O caso está sendo investigado pela 100ª Delegacia de Polícia, do Jardim Herculano, também na zona sul.
“Só Deus mesmo para me dar forças para continuar a viver. Pois só quem já passou por isso sabe que a dor de perder um filho é muito grande”, finaliza Lucinéa.

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